quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pesquisadora alerta para os riscos da Vigorexia

Transtorno psíquico é difícil de diagnosticar e atinge cada vez mais jovens e adolescentes
A busca por um corpo perfeito é o desejo de milhões de pessoas, mas um desejo que se transforma em preocupação excessiva com a forma física pode desencadear um transtorno psíquico, menos conhecido do que a Anorexia e a Bulimia, mas não menos prejudicial e preocupante: a Vigorexia (transtorno dismórfico muscular) ou complexo de Adônis que não tem relação com a prática regular e saudável de esportes.
“A vigorexia consiste em um transtorno psiquiátrico de culto ao corpo no qual os indivíduos nunca estão suficientemente satisfeitos com a sua imagem corporal e se caracteriza por uma preocupação excessiva do indivíduo em tornar-se musculoso”, explica a nutricionista e professora da Uneb, Ana Cristina Mendes.

A vigorexia é uma questão relativamente recente, também conhecida como anorexia reversa. Quem sofre deste transtorno se acha magro e fraco demais, mesmo que seja musculoso, forte. E vai atrás de um corpo totalmente idealizado na maioria das vezes, irreal.
De acordo com pesquisa realizada em 2008, fruto de uma tese de doutorado em Psicologia, Saúde, Educação e Qualidade de Vida, defendida por Ana Cristina, cerca de 28% dos entrevistados apresentam algum grau de distorção da imagem corporal, variando de leve a grave, revelando para esta população um alto risco de tornar-se um vigoréxico. “Verificamos ainda, que entre jovens com idade inferior a 30 anos existe uma chance 4 vezes maior de desenvolver o transtorno”, relata.

As maiores vítimas ainda são os homens, mas já não é tão difícil verificar nas academias mulheres com comportamentos exarcebados que revelam algum grau de distorção da sua imagem. A atriz Joana Prado, que interpretava a "Feiticeira" já admitiu que sofria de vigorexia, e não importava quanto malhasse, continuava se achando fraca. Alguns jornais e sites internacionais chegaram a divulgar fotos da cantora Madonna e cogitaram que a pop star, conhecida também por ser fã da malhação também sofreria do transtorno.
Diagnóstico difícil – O fato de ainda não ser catalogada como uma doença não a impede de ser associada a outros distúrbios como a depressão e a um alto numero de lesões musculares. Como é um problema diretamente ligado à auto-estima do individuo, o reconhecimento da patologia nem sempre é fácil, pois é comum que as pessoas associem a prática de atividade física e esportes a uma boa saúde. Porém, os vigoréxicos precisam de tratamento médico e psicológico.
“A partir de vários estudos, e com base nos dados da nossa pesquisa, observa-se que vigorexia desenvolve-se como resultado de um conjunto de fatores ambientais, sócio-culturais e econômicos que influenciam direta ou indiretamente o desenvolvimento do transtorno. Dentre estes fatores destacam-se: modismos e tendências, estímulo ao consumo de produtos de beleza e suplementos, escassez de campanhas educativas, cobranças familiares e pressão social dentre outros” alerta a pesquisadora.

Além dos fortes elementos socioculturais presentes no desenvolvimento e na incidência da Vigorexia a patologia também pode estar relacionada com desequilíbrios de neurotransmissores do sistema nervoso central, mais precisamente da serotonina. A pesquisadora salienta ainda, que a dismorfia muscular está associada a sofrimento e prejuízos em várias áreas da vida do indivíduo e do seu corpo, a exemplo da vida social e relação familiar.
Sua presença também pode aumentar o risco de uso de esteróides anabolizantes androgênicos, drogas com consequências potencialmente perigosas quando mal utilizadas. “Habitualmente indivíduos com transtornos corporais sentem-se pressionados em demasia pela mídia para manter padrões de estética, muitas vezes inatingíveis, motivo que leva muitos jovens e adolescentes a adotarem técnicas e procedimentos não-saudáveis de controle de peso e/ou modelagem corporal”, destaca.

Ana Cristina Mendes faz um alerta: um número cada vez maior de jovens e adolescentes vem se tornando vulneráveis ao desenvolvimento de distúrbios de comportamento associados à distorção da imagem corporal, numa tentativa de se sentirem aceitos socialmente e até mesmo como um mecanismo de compensação da baixa auto-estima e sentimentos de inadequação ao meio onde vivem.
Dados do entrevistado:
Prof. Ana Cristina Rodrigues Mendes – Docente da Universidade do Estado da Bahia –UNEB. Nutricionista. Licenciada em Educação Física. Especialista em Psicopedagogia. Mestre em Nutrição e Doutora em Psicologia, Saúde, Educação e Qualidade de Vida.

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